Há muitos anos vi um filme intitulado "Deus precisa dos Homens ".
Este filme encantou as minhas convicções.
Afinal, uma vez mais, Deus se socorre dos Homens para O ajudarem na Sua Palavra .
Irónica pretensão?
Somos, no fim de contas, uma asa de Deus, aquele Ser sempre invisível.
O que seria da existência humana sem esta asa?
Não haveriam hinos à Primavera de regatos, flores, brisas acariciadoras, o arco iris festejado pelo som do passaredo.
O Verão já não se espreguiçava cálido na areia da praia beijada pelas ondas brincalhonas.
Porém, este Universo desertifica-se.
Ficamos ausentes de nós próprios.
Fechamo-nos.
Aprendemos com esta clausura que não basta viver sem ter com quem partilhar o que se vive e como se vive com ou sem alegria.
De contrário, acaba-se na Solitária deste Universo desumanizado.
Procura-se saber como este Universo foi criado para se compreender a perda do seu Arquiteto.
Terá sido com a ajuda dos deuses do Olimpo?
Deuses do Ar, do Sol, do Fogo, do Tempo? Ou do poder do Tniowa em cumplicidade?
Se calhar foi por isso que nasceu o mito dos Pais da Humanidade.
Mito mesmo?
Ou um artefacto aperfeiçoado do ex machina?
Como devia contemplar extasiado as maravilhas da Sua Criação!
Decidiu então ter com quem partilhar tais maravilhas .
Mas eu fiquei sem ter alguém. Sem nada.
Hoje sou apenas companheira do Destino.
Sobrevivo sob o seu controlo.
Parei de sonhar no meu Universo.
Sim,porque também tenho o meu Universo bem escondido.
É o lar dos meus silêncios. A saudade e a tristeza coabitam nesse espaço muito meu. Tenho como companhia os astros por onde vagueia o afecto de mãos dadas com o meu tu misterioso, ausente no longe dos longes.
Voo nas asas deste Ser sempre escondido para O mimosear com os versos de Almeida Garret :
Tinha umas asas brancas
Asas que um Anjo me deu
Que me cansando da Terra
Batia-as,voava o Céu .
Mas
Pena a pena cairam
Nunca mais voei o Céu.
Que abismo mágico!Já não voo para ser feliz.Consigo passar por labirintos da Solidão, pelos regatos, flores e arco iris e ouvir a voz do meu coração.
Não gosto da dor .
Transforma-me
numa ostra desventrada .
Fico vazi.
Choro a vida magoada
lentamente largada
fora do meu cruzeiro.
Resisto.
insisto
avanço
Por ti chamo
de braços abertos
mendigando os teus afectos .
E tu tão longe do meu horizonte.
Eu vou vencendo
enfrentando
o pior inimigo
em luta comigo:
A solidão
fechada na mão.
Maria de Sá